sexta-feira, 24 de março de 2023

Bossa Nova, Samba e Jazz

 Não foi a Bossa Nova que iniciou um processo de conexão da música brasileira com a música norte-americana. Não foram Johnny Alf, João Gilberto, Stan Getz, C. Baker ou Stan Kenton que conectaram a nossa música ao jazz.


Essa relação é bem mais antiga. É preciso conhecer a história para não repetir esses erros. 


No fim dos anos 20, já havia criticos no jornalismo brasileiro dizendo que o choro estava sendo influenciado pelo jazz.


Quem introduziu o jazz no Brasil foi o pianista e compositor pernambucano Fats Elpidio, em 1938, no Fluminense Futebol Clube. Depois o maestro Severino Araújo e sua orquestra Tabajara também executaram canções de jazz. 


Fats atuou no Copacabana Palace, na boate Vogue, no Hotel Meredien,  com Eliana Pittman e na orquestra do maestro Fonfon e Tabajara. Tocava choro, samba-canção, bolero, Bossa Nova, jazz, blues e frevo. 


Nos anos 40 Custódio Mesquita e Pixinguinha gravaram fox-canção. Joubert de Carvalho, Noel Rosa e Ary Barroso também gravaram fox.


Dick Farney atuou nos EUA nos anos 40, cantando em inglês nas rádios. Conheceu Sinatra e seu fã-clube era unido ao de Frank Sinatra.


Carmem Miranda viveu dez anos nos EUA e cantava música brasileira em filmes de Hollywood, ao lado de grandes nomes como Dean Martin. 


Dick Farney, Ary Barroso e Aloysio de Oliveira trabalharam no Grupo Disney, na área musical dos filmes da Disney. Foram amigos de Walt Disney.


Heitor Villa-Lobos fez trilha sonora para o cinema americano e a o grupo Disney.


Cauby Peixoto também cantou nos EUA com Nat King Cole e Bing Crosby. 


Nat King Cole gravou, cantando em português.


Bing Crosby gravou Copacabana e Aquarela do Brasil de Braguinha e Ary Barroso respectivamente.


O samba-canção nasceu no fim dos anos 20 e sofreu  influência do bolero nos anos 40. A Bossa Nova nasceu de uma vertente do samba-canção.


A Bossa Nova travou contato com o cool jazz e foi o momento supremo de convergência dos dois universos musicais, com Tom Jobim, João Gilberto, Johnny Alf, Astrud Gilberto e Stan Getz e tantos outros grandes nomes. 


Tom Jobim foi gravado por Sinatra e todos os gigantes da música nos EUA.


Foi a mais bem sucedida articulação da música nacional no mundo. Momento mais alto de excelência musical.


O Jazz nunca mais seria o mesmo depois da Bossa Nova, dizia Tom Jobim.


Aloysio Oliveira declarou que desde a chegada dos portugueses, a música brasileira nunca deixou de receber influências externas, a única música puramente nacional seria o canto tribal dos povos indígenas com uma flauta de bambu. As culturas estão sempre influenciando e recebendo influências.


O choro e o samba nasceram de uma mistura de generos europeus e ritmos africanos (polca, xote, valsa, mazurca, habanera, e o lundu)


Choro e samba são gêneros nacionais, nasceram no fim do século XIX, fruto da mistura de gêneros europeus e africanos, e sofreram influencias e transformações no século XX. 


O Jazz possui essa capacidade plástica de se acoplar a expressões musicais nacionais e manter as suas raízes. 


O Jazz encontrou na Bossa Nova uma fonte de renovação riquíssima e sem paralelo.


Tom Jobim e a Nova Banda 


A Bossa Nova 

Ontem foi o dia da Bossa Nova, a Bossa Nova foi aplaudida por grandes personalidades nacionais da música e também no exterior. Contudo, no seu início, gerou críticas e resistências que foram se diluindo ao longo do tempo. Herivelto Martins, por exemplo, não gostava da Bossa Nova, ele achava que vinha tirar protagonismo da Velha Guarda, afastar a tradição. Porém, quando João Gilberto gravou todos os sucessos de seu repertório, Herivelto Martins ficou encantado. Tom Jobim, Newton Mendonça, Johnny Alf, Roberto Menescal, e Carlos Lyra, queriam renovar a música brasileira em diversos aspectos (melodia, harmonia, letra, orquestração, arranjo, canto), mas, jamais, quiseram negar a importância da tradição. João Gilberto gravou todos os sucessos clássicos do samba, obras de Ary Barroso, Noel Rosa, Lupicinio Rodrigues e tantos outros. Tom Jobim sempre afirmou sua admiração por Dorival Caymmi, Pixinguinha, Noel, Custódio Mesquita e Ary Barroso. A Bossa Nova nasceu de uma ramificação do samba-canção. Veio expressar nova visão de mundo dos jovens, em relação à vida pessoal e à sociedade. A Bossa Nova  portanto, articulou a tradição com o futuro, deu uma nova vestimenta à tradição e veio ampliar os horizontes da nossa música. Promoveu um diálogo entre culturas, povos e tradições. Com Tom Jobim, a fronteira entre o erudito e o popular se desfaz, tal a qualidade de sua produção. A Bossa Nova foi o movimento que deu origem ao que passou a ser conhecido como Música Popular Brasileira com sua imensa riqueza. Nossa música foi projetada no mundo, de forma inédita, estrutural, influenciando gerações de músicos. Ela não impos um modelo único, ela se abriu a pluralidade de expressões musicais. Você tem João Gilberto e seu violão e tem Baden Powell com uma proposta diferente, Nara Leão e Elis Regina, Elza Soares e Maysa. Foi uma era de ouro que o mundo reconheceu e até hoje aplaude.


Tom Jobim e a Nova Banda


Tom Jobim jamais impôs um padrão de interpretação de suas canções


Isso favoreceu a rica recepção de sua obra 

Nenhum comentário:

Postar um comentário