quinta-feira, 23 de março de 2023

 Música Nacional e Internacional 


Na formação erudita de Tom Jobim, os nomes e correntes mais importantes são Heitor Villa Lobos,  o impressionismo musical de Debussy e Ravel, seu primeiro mestre Hans-Joachim Koellreutter, e Radamés Gnatalli, na esfera da música popular, Ary Barroso, Dorival Caymmi e Pixinguinha .Villa Lobos e a fusão do erudito e do popular, como fazia Ernesto Nazareth.   Hans-Joachim Koellreutter foi seu primeiro professor de música, Tom tinha apenas 13 anos. O músico erudito alemão foi contratado pera mãe de Tom Jobim para dar aulas de piano para Helena Jobim e outras crianças do Colégio Brasileiro de Almeida, quando Tom teve seu interesse despertado para a música. Koeullreutter foi amigo  de Heitor Villa-Lobos,  e professor de grandes músicos como Claudio Santoro, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe, Eunice Katunda, Diogo Pacheco, Júlio Medaglia, Isaac Karabtchevskye e Edino Krieger. Ele fundou o grupo Musica Viva em 1939, sua filosofia era a do homem integral e a abertura de horizontes da música, sua técnica além das tradicionais europeias,  incorporavam diversas influências musicais, incluindo a música japonesa e a indiana, microtonal, e a  tecnologia eletrônica. Ele dizia que o bom mestre sempre deve aprender com os alunos e seus interesses. Hermann Scherchen  acolheu Koeullreutter em Genebra e o introduziu ao atonalismo e  à técnica dodecafônica. O maestro  Koellreutter faleceu em 2005. O mestre alemão formou gerações de músicos brasileiros.


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A Origem do Samba e do Choro



A narrativa de uma identidade musical homogênea, de longa tradição, em relação ao samba é uma ficção. Um instrumento de luta política e cultural. A tentativa de impor uma identidade musical ao Brasil sem base histórica. Pura arbitrariedade. 


O Samba nasceu do Maxixe do fim do século XIX e início do século XX, através da obra de Donga, Sinhô, João da Baiana, e Heitor dos Prazeres. O Maxixe é fruto da fusão de gêneros europeus com o lundu africano. Assim também é o Choro que nasceu da polca (austriaca), mazurca (polonesa),  schottische (alemão), valsa (vienense), o minueto e a habanera cubana com o lundu. Grandes nomes do choro foram Callado, Anacleto, Nazareth, Pixinguinha, Villa Lobos, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, e Zequinha de Abreu. 


A Tia Ciata fazia reuniões desses grandes nomes do choro e samba no Rio de Janeiro, Donga, Sinhô, e João da Baiana.


Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth utilizavam os ritmos africanos em suas composições com gêneros europeus, chamavam de choro, valsa-choro e tango.  Heitor Villa-Lobos também combinou o erudito e o popular.


Em 1917 foi gravado no Brasil o primeiro samba de grande sucesso "Pelo Telefone", com letra de Mauro de Almeida e Donga.


Ismael Silva criou a primeira escola de samba, a Deixa Falar, e o samba de desfile nos anos 20, no Rio de Janeiro. Uma mudança rítmica com um novo padrão instrumental percussivo, estilo mais sincopado.


No fim dos anos 20, nasceu o Samba-canção (Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto). O samba de Noel Rosa, Ary Barroso (samba exaltação), Herivelto Martins, Lupicinio Rodrigues, Custódio Mesquita, Ataulfo Alves, Assis Valente, e Caymmi, é bem diferente do samba da época de Donga e Sinhô. Depois, nos anos 40, houve a influência do bolero no Samba-canção. 


Nos anos 40, Custódio Mesquita, Mário Lago e Pixinguinha gravaram Fox.


O Choro com o Samba deu origem ao samba de gafieira, samba de salão, e ao samba de breque. 


No pós-guerra, surgiu o sambalanço sob a influência do samba exaltação, jazz, ritmos caribenhos, e deu origem ao samba rock e ao samba jazz. 


A Bossa Nova foi mais uma etapa nesse processo evolutivo do samba. Uma vertente do Samba-canção. Nunca houve uma uniforme e longa tradição de um gênero musical no Brasil. Os músicos americanos adotaram a Bossa Nova como Cool Jazz.


Tom Jobim sempre enfatizou esse ponto, a riqueza do samba e suas variações.


A Bossa Nova definiu um recorte, uma batida, dentre as múltiplas possibilidades rítmicas do samba.


Tivemos o Partido Alto que deu origem ao Pagode nos anos 80 e 90.


O Jazz possui essa capacidade plástica de incorporar expressões musicais nacionais e manter suas raízes.


Essa riqueza de gêneros e ritmos é bem brasileira e admirada no mundo todo. Não surpreende, portanto, que tenha produzido um Tom Jobim, um Heitor Villa-Lobos, e um Ary Barroso.


Nazareth introduziu elementos de Bach e Tchaikovski, Jesus Alegria dos Homens, O Cravo Bem Temperado e o Quebra Nozes.


O Maestro Soberano como o culminar de uma linda história da música brasileira que começou com a Polca de Callado e Chiquinha Gonzaga passou por Ernesto Nazareth, mestre Villa-Lobos, Ary Barroso e Pixinguinha e chega no Maestro Soberano. Brasil, encontro de povos e culturas !


A Bossa Nova não é um segmento da música que ficou de lado, ou uma etapa da história que ficou para trás, ela é a própria origem da modena música popular brasileira. Essa música de Roberto Carlos, Caetano, Gal, Milton Nascimento, Elis Regina, Ivan Lins, Djavan, Gonzaguinha, Marisa Monte, Elza Soares, Ana Carolina só pôde florescer porque a Bossa Nova quebrou paradigmas. As pessoas ouvem músicas de Tom Jobim nas novelas da Globo e nem sabem que é de Tom.



Antônio Carlos Jobim


Obra do artista plástico Mello Menezes. Uma pintura que vale por mil palavras e interpretações da obra de Tom Jobim. Um compositor que participa da obra da natureza.  A voz da mata, a voz da fauna, a sinfonia da natureza, o céu, o sol, a montanha, o mar, as praias, as águas, a harmonia do homem e da natureza, a mulher. O compositor como um co-criador do Universo. O belo e o amor pelo conjunto da natureza. Uma visão do Éden ou o Maravilhoso Mundo de Antonio Carlos Jobim. O regente da Mãe Natureza. Em cada estrela uma canção. Um compositor que fala com a nossa alma. Crença ou otimismo forte no futuro do Brasil, o papel do Brasil na America Latina e no mundo, desenvolvimento econômico e social, cinema novo, nova arquitetura. O Tom como morro verde, amarelo, azul, "que não tem vez", a crítica social, "a cidade que vai se alegrar" quando o morro tiver vez, a tragédia de Orfeu, desgraça no meio da alegria suprema do carnaval. Tensão, drama, na letra, na melodia e leveza.


As artes, ou seja, literatura, música, dramaturgia, permitem ao homem pensar sobre experiências que não tiveram, alternativa ao que viveram, sentir mais intensamente saudade, alegria, tristeza, fixar na memória momentos felizes. Tom Jobim acreditava no poder transformador da musica, mas lembrava que a música pode ter múltiplos propósitos como ir a guerra, relaxar, fazer exercício físico, amar e etc.


Jabor dizia que Tom Jobim sempre o remetia a um passado idealizado e a um Brasil alternativo.  A perfeição e a excelência da música e o descompasso com a realidade social. A saudade, portanto,  do que podíamos ter sido. 


Saudade de um Rio de Janeiro diferente. Um tempo que passava mais lento. Uma  época onde curtiamos a vida com prazer. Hoje não há tempo, há um caos de acontecimentos e um sumidouro de eventos e damos graças a Deus de sairmos vivos. No passado, por exemplo, passear pela praia era lírico, bucólico. Ipanema era um pedaço do paraíso.


Tom Jobim era nossa referência cotidiana. Felizmente não se ausentou em definitivo do Brasil, para viver nos EUA. Enquanto viveu, esteve presente aqui, falando de tudo. 


Gostava de falar de aves, animais da mata e do mar, não apenas pelo amor à natureza, mas também porque desejava fugir da brutalidade do cotidiano. 


Tom Jobim falava da natureza e da necessidade de harmonia do homem com o meio. Não fazia uma pregação romântica, mas realista. 


Ao tratar a realidade social em Orfeu Negro não reforçava esteriótipos, faz uma crítica sofisticada. Tragédia em meio a máxima expressão da felicidade.


Tom era um mediador do mundo dos homens com natureza. Sem a harmonia com a natureza, não há como pensar o futuro da sociedade, dizia Jabor sobre Tom. Ao morrer Tom Jobim voltou à natureza como árvore, floresta ou algum animal que ele amava. 


Jabor dizia que Tom Jobim não era delimitavel. Tom não tinha começo e nem  fim, era um Debussy de conceitos, lançados uns sobre os outros, como num fluxo das ondas de Ipanema. O Brasil pensava sobre si, através de Tom Jobim. Sua morte foi a derrubada de uma floresta. Através de Jobim, Guimarães Rosa, Villa-Lobos, Debussy, Chopin, Ravel, Ary Barroso se faziam presentes.


Uma perda enorme para a cultura nacional. 


São referências para pensar o Brasil que partem e deixam um enorme vazio.


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