sexta-feira, 24 de março de 2023

Movimento da Bossa Nova

 Aniversário do LP de João Gilberto


João Gilberto entendeu que cantando baixo, poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida fosse constante, sem vibrato, criando  seu próprio tempo. Aquilo que os críticos chamam de goteira.


Ao violão, tocava acordes, e não notas, com a mão direita, produzindo harmonia e ritmo, simultaneamente.


A tendência do canto intimista vinha de Bing Crosby, Frank Sinatra, Dick Farney, Mário Reis, e Lúcio Alves e da própria Sylvia Telles. A voz que canta ao ouvido e conquista o coração.


Utilizava técnicas que lhe permitiam alongar frases melódicas sem perder o vigor e velocidade, ele criou a incerteza da fala, no canto; um canto quase falado.


João Gilberto trouxe a orquestra para o violão, houve um esvaziamento da orquestra, uma síntese voz violão, desse modo, o seu cantar ficou parecido ou favorável aos solos dos instrumentistas do jazz. Stan Getz gravou com ele, e com Astrud Gilberto e Miucha também. O canto quase falado já estava presente em Noel Rosa, ou seja, já era uma possibilidade do samba-canção. O samba sincopado vinha do samba de salão, Garoto e Vadico usavam acordes dissonantes. João Gilberto admirava de Orlando Silva a C. Baker.

 

Tom Jobim sempre deu apoio a João Gilberto e suas inovações. 


João Gilberto deu uma nova roupagem à tradição e regravou sucessos clássicos de Ary Barroso, Pixinguinha, Dorival Caymmi, Custódio Mesquita, Lupicinio Rodrigues, Ataulfo Alves, Herivelto Martins e Noel Rosa, além, obviamente, do cancioneiro de Tom Jobim e seus parceiros.


Em julho de 58, Elizeth Cardoso lançou o LP Canção do Amor Demais, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. João Gilberto acompanhava Elizeth ao violão, nas faixas Chega de Saudade e Outra Vez, sendo essas as primeiras gravações da chamada "batida da bossa nova". O marco inaugural da Bossa Nova. João pediu a Elizeth para cantar no estilo Bossa Nova. Em agosto, João Gilberto lançou um disco de 78 rpm com "Chega de Saudade" e "Bim Bom", gravado na Odeon, com apoio de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Aloysio de Oliveira. Sua gravação teve arranjos de Tom Jobim, e orquestra e de Milton Banana.


Com dois microfones, um para o violão e outro para a voz, permitiu o entendimento mais claro da harmonia.


Em 1959, João Gilberto lançou mais um disco 78 rpm, com Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça, e Hô-bá-lá-lá, composição de sua autoria. Em março, lançou o LP Chega de Saudade, sucesso de vendas.


Menescal, Durval Ferreira, Lyra e Johnny Alf propuseram seus ritmos para a Bossa Nova e acabou prevalecendo o proposto por João Gilberto com base no tamborim.


Estamos comemorando o aniversário do seu LP de 59.


Outro elogio a João Gilberto é sua dicção perfeita e econômica que permite o fácil entendimento da mensagem.


As inovações de João Gilberto, apesar de aplaudidas pela grande maioria dos músicos, gerou muitas críticas, todas muito frágeis. Sem nenhuma base factual. Diziam que ele estava desfigurando o samba- canção, alterando sua métrica e harmonia para favorecer sua absorção pelo jazz. Na verdade, o jazz é quem incorporou contribuições das músicas nacionais nos anos 50, música caribenha, latina e etc, através do Cool Jazz, Bebop, e Jazz Fusion.


Stan Getz e Byrd já tocavam Tom Jobim, antes do show de 1962 no Carnegie Hall. Bing Crosby gravou Copacabana de Braguinha, Aquarela do Brasil de Ary Barroso no estilo clássico.


Chega de Saudade foi inscrito no Hall of Fame dos EUA.


Era apenas um violão e uma voz com uma única história, mínimos detalhes de encaixe precioso entre a voz, a respiração, a mão direita em bloco e os deslizes pelas cordas entre cada acorde. Minimalismo vocal e instrumental. Inovações melodicas em cada interpretação. Sentido polirritimico do tempo na Bossa Nova.


Contudo, no vídeo abaixo, podemos observar que na apresentação gravada, Joao Gilberto não é mais o cantor solitário, representante do "eu lírico" de Jobim e Vinícius, ele para de cantar e deixa a plateia levar a canção, um verdadeiro coro de vozes espontâneas, o jornalista Chico Pinheiro aparece na plateia.




"Há compositores que fazem lindas canções românticas, cheias de lirismo, delicadeza, sensibilidade, mas, no cotidiano, são pessoas amargas, secas, ásperas, Tom Jobim nunca foi frio, áspero, indelicado, sempre viveu o que compôs. Uma graça de pessoa, um grande ser humano!"


Luis Carlos Vinhas

Programa Sem Censura, TVE, Rio



Tom Jobim dizia que a música pode mudar o mundo. Pode ajudar a construir um mundo melhor, mas depende de quem faz a música e para qual propósito. Tem música a favor da ecologia, da paz, e, também, tem música para ir à guerra, para dançar apenas, para fazer exercício, para relaxar.


Orfeu da Conceição é uma peça teatral de Vinicius de Moraes de 1956 inspirada na mitologia grega. Orfeu do Carnaval, filme de 1959, baseado na peça de Vinicius de Moraes, trágica história romântica entre a jovem Eurídice e o motorista e músico Orfeu. 

Diretor e roteirista :  Marcel Camus

Prêmios: Palma de Ouro, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, entre outros.

Músicas compostas por Luiz Bonfá e Antonio Carlos Jobim

Na foto: Tom Jobim , Vinicius de Moraes, Agostinho dos Santos, Luiz Bonfá e o elenco do filme.  Foram homenageados pelo então presidente Juscelino Kubitscheck.


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