que estude orquestração, posição melhor remunerada. Tom, que já pesquisava o assunto por curiosidade, procurou tomar aulas com Lyrio Panicalli e mergulhou no consagrado manual de Rimsky-Korsakoff.

Arranjos para dar e vender na editora Euterpe
Em 1953, Tom trabalha como arranjador ‘free-lancer’ para a editora Euterpe, passando para a pauta os sambas que seriam registrados e escrevendo orquestrações para conjuntos de baile, que eram vendidas em qualquer loja de música. Enquanto isso, cresce seu prestígio na noite e emplaca suas primeiras composições. Lyrio Panicalli era diretor musical da gravadora Sinter e levou suas músicas para os cantores da casa. Em abril de 1953, aparecem em disco “Incerteza” (com Newton Mendonça) por Mauricy Moura. Em junho do mesmo ano, sai o 78 rpm “Pensando em Você” e “Faz Uma Semana” (com João Stockler), interpretados por Ernani Filho. Mauricy era cantor paulista, uma tentativa da gravadora de adentrar no mercado da cidade. Ernani Filho era cantor oficial dos empreendimentos de Ary Barroso, o que respaldava o lançamento. As gravações não foram um grande sucesso, mas suficientes para que fosse notado.
Os estúdios Continental
Em fevereiro de 1954, Tom é contratado pela gravadora Continental como assessor musical e pianista. A Continental era comandada pelo veterano compositor Braguinha e dona de um elenco estelar: Orquestra Tabajara, Carmélia Alves, Emilinha Borba, Dick Farney, Jamelão, Zé Gonzaga, Chiquinho do acordeom, Aracy de Almeida entre outros. Em um tempo em que qualquer ritmo ou canção ganhava o apoio de uma orquestração, a Continental era uma verdadeira fábrica de partituras. Era necessário gente que soubesse lidar com elas, desde a notação da melodia na pauta, quando o autor não sabia escrever música, até revisão e correção dos arranjos para orquestra.
Além de um dinheiro fixo todo mês e condições de trabalho mais salutares, a Continental lhe deu a oportunidade única de trabalhar diretamente com Radamés Gnattali, diretor-musical e um verdadeiro mestre do ofício. Ao lado de Radamés, Tom passava para o papel suas ideias, fazia cópias, distribuía as partituras nas estantes, ensaiava coros, tirava tons e organizava os estúdios. Em pouco tempo, o trabalho de Tom começa a ganhar espaço. Suas primeira gravações na casa foram em março de 1954, dirigindo um pequeno conjunto para gravações do cantor Bill Farr e do violonista e amigo Luiz Bonfá. Em maio, sua primeira composições é gravada, ‘Solidão’ (c/ Alcides Fernandes) com Nora Ney. Em junho, a Continental lhe confia uma orquestra pela primeira vez, um arranjo para sua composição ‘Outra vez, para gravação com Dick Farney.
Nesta partitura, Tom já dá algumas diretrizes de seu trabalho como arranjador, que àquele período correspondia basicamente em manejar uma orquestra ouconjunto. O samba-canção ganhou um arranjo sinfônico, composto de uma densa sessão de cordas, com solos de flauta, oboé e trompas, à moda das serenatas de Tchaikovsky que estudava com Léo Peracchi, seu novo professor. Tom nunca escondeu sua influência dos compositores do período romântico, como Chopin, e período moderno, como Ravel e Debussy, cujos representantes brasileiros eram Claudio Santoro, VIlla-Lobos, Francisco Mignone, Guerra Peixe e o próprio Radamés Gnattali. A partir destes, Tom Jobim dá prosseguimento a linhagem nacionalista indicada por Mário de Andrade, que buscava na sabedoria popular inspiração para compor obras de concerto. Jobim se abastecia, neste caso, na música urbana do Rio de Janeiro dos anos 1950, o samba canção. Tom herdava o gosto por uma sonoridade baseada na verticalidade, acordes dissonantes e com tensões, orquestrada com muitos timbres. Tom gostava de trazer instrumentos sinfônicos, como oboé, corne inglês e fagote para seus arranjos. Radamés era também um entusiasta dessa quebra de barreiras entre o popular e o clássico e incentivava o pupilo.
Até a gravação de ‘Outra vez’, Tom não tinha muita prática com regência, passando o posto para Alexandre Gnattali e correndo para trás do piano. Na mesma sessão, no dia 7 de maio de 1954, a grande orquestra dá lugar a um pequeno conjunto (com João Donato ao acordeon) para Dick Farney e Lúcio Aves gravarem ‘Casinha pequena’ e ‘Tereza da praia’, parceria com Billy Blanco que faria enorme sucesso.
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