domingo, 28 de maio de 2023

 Entrevista de Carlos Lacerda com Tom Jobim. O famoso jornalista e político entrevistou Tom Jobim para a Revista Manchete, 1970. Falaram sobre o Rio de Janeiro, Lacerda foi Governador da Guanabara, perguntou a Tom se ele gostaria de ser Governador do Rio de Janeiro e se ele podia trocar e ser autor de um sucesso de Tom. O começo da entrevista foi tenso. Lacerda apoiou o Regime de 64 e depois foi cassado. Tom Jobim o tratou bem. Falaram de Ary Barroso, Pixinguinha, Heitor Villa Lobos, Sinatra, Wave, Retrato em Preto e Branco, Cecília Meirelles, Brahms.

Tom Jobim confere um tom transcendental a assuntos banais do cotidiano, dizia Lacerda. Ele eterniza o instante.  Teran, Peracchi, Bochinno, Radamés, Lúcia Branco, Koelreutter, Debussy, seus mestres. O samba-canção cantado em grande voz e a Bossa Nova como amantes, como um cafuné, um sussurro no ouvido, mas a Bossa Nova não ficou para trás com o que veio depois, ela abriu horizontes e Tom Jobim com seu talento versátil não pode ser inserido em rótulos empobrecedores. Festival da Canção, Carnegie Hall, Sinatra. Os americanos dizem que ele tem influência francesa e os franceses dizem que ele tem influência de Villa Lobos e é bem brasileiro. Sua angústia é ecológica, seu espírito se inquieta com os dramas da humanidade. O ódio é inimigo da inteligência. Opiniões de Lacerda sobre Jobim.


"Sei que Tom não quer parecer um magoado, um ressentido. Nem tem razão para o ser, esse criador, esse vitorioso. Não é questão de mágoa, é de angústia.. não é ressentimento, é apenas sentimento do mundo nessa alma delicada, nesse coração aflito; queira ou não, isto ninguém evita, simplesmente assume porque tem, como tem boca, dois olhos e um nariz. Olhos curiosos, que me interrogam. Angústia de ser, de viver, que resolve seu transe, seu trauma e se liberta - em música "


Carlos Lacerda provocou Tom Jobim dizendo que sua postura contra a sociedade industrial e o progresso era romântica. Tom Jobim respondeu que havia muito progresso industrial mas muita fumaça, florestas queimadas e derrubadas. Poluição enorme no ABC e nas indústrias do Rio de Janeiro. Tudo correndo para os rios. Um progresso que vai pagar o preço de ver a sociedade sendo levada pelas águas. Tudo desapareceria. Essas palavras foram ditas em 1970. Só um visionário poderia ter a coragem de dizer isso nos anos 60 e 70. A entrevista foi concedida para Carlos Lacerda na Revista Manchete em 1970. Ele era realmente um iluminado. Tom Jobim defendia a sustentabilidade. O progresso condicionado a preservar e recuperar. Controle. Limites. Na época não se entendia esses critérios.

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