Há ao menos dez anos, uma das maiores cantoras de jazz em atividade nos EUA, Susannah McCorkle, tem ajudado o público americano a ouvir e entender a música de Tom Jobim.
Seu novo show, que reabre o mítico Oak Room do Hotel Algonquin, ousa celebrar a um só tempo o centenário de George Gershwin e a obra do "Gershwin do Brasil"', Tom Jobim. O escândalo é que McCorkle jamais foi convidada para cantar no Brasil.Até 4 de julho não há programa musical noturno mais obrigatório em Manhattan do que uma ida a "Gershwin & Jobim". O show foi classificado como "maravilhoso" por Stephen Holden, no "The New York Times". A revista "Time Out" o mantém num posto cativo entre suas indicações.
A fama de McCorkle vem de longe. Em 1985, uma pesquisa da revista "Jazz International" a posicionava logo atrás de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan entre as maiores cantoras em atividade.
Seus 15 discos gravados desde 1980 incluem songbooks dedicados a Cole Porter e Johnny Mercer, entre outros. Seu belo "Someone to Watch Over me - The Songs of George Gershwin" (Concord Jazz) acaba de sair do forno.
Músicas de Jobim encontram-se em três deles: "No More Blues" (89), "Sabia" (assim mesmo, sem acento, 90) e "From Bessie to Brazil" (93). McCorkle não se limita a cantá-las. Insatisfeita com a qualidade das versões das letras, arregaçou as mangas e vem aos poucos esculpindo as primeiras traduções para inglês dignas de Tom.
No show, duas se destacam: "Caminhos Cruzados" e "Águas de Março" (Waters of March). "Ela se tornou minha canção mais pedida", disse McCorkle à Folha. "Foi a razão de meu CD 'From Bessie to Brazil' alcançar o 20ª posição na 'Billboard'."
Susannah McCorkle lembra fisicamente a Julie Andrews de "Vitor ou Vitoria". "João Gilberto e Billie Holliday foram os cantores que mais me influenciaram e me ensinaram", reconhece. Perdeu o show dele, na última sexta, no Carnegie Hall devido a sua própria apresentação.
Sua eficiente imitação de João Gilberto entoando "S Wonderful" é o momento mais divertido de seu show. Se esticasse um pouco mais as últimas sílabas, seria a dubladora ideal de Gilberto.
Mas o "mood" de McCorkle é mais melancólico. Como Holliday, seu forte são as canções tristes. Sua pausada versão para "I Love You Porgy", na parte inicial do show dedicada a Gershwin, é simplesmente hipnótica.
"Nossos países têm as mais belas canções populares", defende a articuladíssima McCorkle. Seus shows vão muito além de entoá-las. Ela os estrutura em torno de resumos sólidos e divertidos da biografia dos homenageados.
Não surpreende que ela já tenha escrito sobre jazz para publicações como "American Heritage" e a revista dominical do "The New York Times". McCorkle canta com gogó, cérebro e coração. Na cena americana de hoje, ela é o top. Só falta o Brasil descobri-la.
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