segunda-feira, 18 de setembro de 2023

 Entrevista com Carlos Almada,

Jornal da Unicamp, 11 de Agosto de 2022


Obra A Harmonia de Jobim.


‘Mar imenso sem limites’, o particular universo de Tom Jobim


A riqueza, a originalidade da harmonia na obra de Jobim.


Docente dos cursos de graduação e pós-graduação na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Almada quer entender a relevância de aprofundar estudos sobre a imensa discografia jobiniana. 


Almada trata questões relacionadas ao diálogo das composições de Tom Jobim com as de seus contemporâneos e o seu legado musical.


Produto de uma longa pesquisa de 21 anos.

Examinou 145 canções do compositor, Carlos Almada traça os aspectos harmônicos do maestro carioca.


Autor também de Arranjo (2001) e Harmonia funcional (2009)


Ao contrário de outras obras, ele não se dedica apenas à história da Bossa Nova, à biografia, ou à análise de poucas obras. Sua proposta é de uma análise ampla e profunda da obra de Jobim, em todos os seus aspectos e complexidade.


Carlos Almada explora três esferas do universo composicional de Tom Jobim: a harmonia, a melodia e os elementos textuais. 


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Trecho da entrevista:


Editora da Unicamp: Por que o foco na “harmonia”? E que outra noção de “harmonia” o livro oferece para além do conceito mais comum de “ciência que se dedica ao estudo dos acordes e de suas relações”?


Carlos Almada: A harmonia é, no meu entendimento, o elemento mais complexo, vistoso e distintivo da música jobiniana, o que motivou que fosse selecionada como o parâmetro de análise inicial da pesquisa. Isso não significa, de modo algum, que outros domínios da música de Jobim – como melodia, forma, arranjos – não mereçam ser estudados em profundidade (o que faz parte, aliás, dos meus planos mais imediatos).


Em resposta à segunda questão, minha concepção particular de “harmonia” (aqui inserida num contexto tonal, evidentemente) é mais ampla do que sugere a definição apresentada: vejo o conceito como resultante da interação entre a estrutura melódica e os acordes que a sustentam, uma interação mediada pelas forças funcionais que emanam, em última instância, da tônica referencial, bem como as possíveis correlações, desde as mais óbvias e centrípetas às mais complexas e de tendência centrífuga.


Editora da Unicamp: Sabe-se que Tom Jobim possui variadas maneiras de expandir a função harmônica em sua música. É possível resumir, em rápidas palavras, o que, principalmente, caracteriza a harmonia jobiniana?


Carlos Almada: Eis uma pergunta muito difícil de ser respondida “em rápidas palavras”.... Talvez possa fazê-lo não apontando especificidades (que são inúmeras – daí a grande dificuldade), mas mencionando que é exatamente uma das marcas características da harmonia jobiniana a expansão funcional, o que é efetivado por meio da exploração extremamente original e criativa dos recursos harmônicos disponíveis, em níveis talvez únicos.


Atribuo isso a uma sensibilidade refinadíssima e a uma intuição composicional sem precedentes.


Há inúmeros aspectos na harmonia do nosso grande mestre que evidenciam tais atributos. 


Uma das propostas de meu livro é justamente identificá-los sistematicamente, de modo que possam ser incorporados à teoria da harmonia em música popular.

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