quarta-feira, 14 de junho de 2023


Sammy Davis Jr 

Garota de Ipanema 



 “Talvez seríamos tomados de um sentimento de profanação se

todas as vitrolas da França se pusessem a tocar Les Heures Dolentes, de Gabriel Dupont. Contudo, não se pode negar que também sou movido por uma espécie de rotina pedagógica a divulgar obras injustamente esquecidas ou não reconhecidas. Liszt, por exemplo, escreveu ao fim da vida quatro rapsódias que permanecem absolutamente desconhecidas, e isso por razões puramente fortuitas, pelo fato de terem sido publicadas fora do corpus das quinze primeiras rapsódias (as mais célebres). Ora, ele as escreveu numa época em que buscava uma nova linguagem; tais obras não possuem a estrutura das outras rapsódias: são desconcertantes, bem menos brilhantes e menos aduladoras para os virtuoses, porém são as mais insólitas, as mais densas.

Deve-se, a fim de descobrir essas obras, olhar à margem e um pouco de lado, dar preferência ao que é menos conhecido sob o risco de negligenciar as obras-primas universalmente reconhecidas e admiradas. A reabilitação de um criador não reconhecido é sempre apaixonante: citei Gabriel Dupont, morto em 1914 aos 36 anos, cuja obra costumávamos estudar bastante no conservatório”. 


Vladimir Jankélévitch, Em Algum Lugar do Inacabado, PP. 308-309

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