Depoimento de Tom Jobim sobre algumas personalidades.
Radames Gnatalli foi um grande mestre para Tom Jobim. Sabia tudo. Falava muito pouco. Falava o mínimo para não ser indelicado. Tom Jobim compôs Meu Amigo Radames e Radames Gnatalli compôs Meu Amigo Tom Jobim, expressão de mútua admiração.
Ary Barroso era o oposto. Falava muito. Grande amigo de bares e conversas. Um gênio como Villa-Lobos
Heitor Villa Lobos tinha um temperamento jupiteriano
Inicialmente ficava muito irritado com a critica depois passou a debochar da crítica.. Conseguia compor em meio ao caos sonoro de seu apartamento com o ouvido interno ou mental. Gostava de épater le bourgeois no estilo dos Modernismo de 22.
Criou uma identidade para o Brasil na música erudita.
Rompeu com o eurocentrismo da elite cultural da época.
Os grandes da música Internacional, Cole Porter, George Gershwin, Antônio Carlos Jobim, Ella Fitzgerald, Maurice Ravel e Frank Sinatra.
Ruy Castro diz que Tom Jobim produziu para a eternidade. Sua música não era alienação quando falava do meio ambiente nos anos 70, muito pelo contrário, era o que de mais importante envolve as sociedades modernas e afeta as gerações futuras, a vida do homem na Terra.
Arnaldo Jabor, seu colega de colóquios filosóficos nos bares de Ipanema, diz que o país se pensava na obra de Tom Jobim, se aperfeiçoava em sensibilidade, se purificava. As águas dos rios e lagoas se clareavam, a sociedade se via através dele com a luz da manhã.
Através de Jobim passavam Guimarães Rosa, Villa-Lobos, Debussy, Chopin, Ravel, Ary Barroso.
Um pedaço do país parou, não era apenas um homem que contemplava o mundo. Ele se posicionava entre nós e a natureza, ele nos olhava do ponto de vista da natureza.
Tom Jobim entre as palavras das músicas, cantava como parte do coro de sons da fauna e da flora. Tom Jobim morrendo é o equivalente a uma floresta derrubada, a um caminho obstruido, ou a uma ponte que desmoronou.
A morte de Tom Jobim foi um alarme sobre a nossa finitude individual e coletiva. Tom Jobim dizia que se Villa Lobos e Ary Barroso morreram por que não aceitar a própria morte ?
Quando nossa referência de consciência e reflexão morre, um grande abalo atinge a cultura nacional. É um indivíduo que porta o universal. Simboliza uma sociedade futura que poderia ter sido, um mundo alternativo, uma ponte com essa sociedade.
Tudo fica mais tortuoso, mais nebuloso, mas como diz Gilberto Gil, a sua música registrada para a eternidade é a continuidade da sua presença e da sua mensagem como fonte de inspiração permanente.
EJ
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