Já em “Meditation”, o versionista demostrou maior preocupação em
estabelecer rimas, dando a elas prioridade em detrimento do conteúdo. Dessa
forma, a “meditação” deixou de ser uma reflexão sobre a vida e o amor e passou a
ser apenas um pensamento ou concentração na lembrança da pessoa amada,
eliminando, mais uma vez, o caráter reflexivo comum às canções da Bossa Nova.
Em “The Girl from Ipanema”, Gimbel alterou o número de sílabas e notas
original, o que modificou a cadência, a batida da canção. Apesar da falta de
correspondência tanto formal quanto de conteúdo entre verso original e verso
traduzido, a versão apresentou características indicadoras de que se trata de uma
canção estrangeira, principalmtente devido à menção ao samba, à descrição da
mulher que passa em direção ao mar e à preservação – ainda que a pedido de Tom
Jobim – da referência ao bairro carioca Ipanema.
Entre as versões de Gimbel analisadas neste trabalho, “The Song of the
Sabia” foi a mais literal. O conteúdo da letra original, sua ideia geral, foi preservado.
Mesmo diante da possibilidade de se traduzir o nome do pássaro, “sabiá”, optou-se
por mantê-lo em português, o que consideramos uma significativa estrangeirização.
Em “Drinking Water”, não parece ter havido intenção de se traduzir
propriamente a letra original, pois a versão, inclusive, possui uma estrofe a menos.
Além disso, o sentido foi alterado. Nessa versão, também se perdeu o tom de
reflexão que havia no original. No entanto, o versionista deixou, em português, os
versos “Água de beber/ Água de beber, camará” do refrão, o que fornece ao ouvinte
estrangeiro a informação de que a canção vem de uma cultura diferente da sua,
tornando a língua, a música e a cultura brasileiras reconhecidas mundialmente, com
o aval de Frank Sinatra.
As escolhas de Norman Gimbel nem sempre são padronizadas: o versionista
priorizou, por vezes, a forma; por vezes, o conteúdo; por vezes, a ideia geral. Foram
feitas muitas modificações no significado de algumas canções, além de
apagamentos e omissões que consideramos marcas de domesticação. Por outro
lado, Gimbel fez explicitações de elementos nem sempre presentes no original que
podem dar informações ao ouvinte estrangeiro, principalmente em “The Girl from
Ipanema”, como no trecho “she’s like a samba that”. Também foram preservadas,
em português, palavras importantes e peculiares à cultura brasileira, como em “The
Girl from Ipanema”, “The Song of the Sabia” e “Drinking Water”. Ainda que
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